Escrevo sem a menor pretensão científica, mas de maneira empírica sobre o que observo no meu consultório no dia a dia. Na realidade, nunca chegou tanta gente com ataques de pânico ou excesso de ansiedade para tratamento. A cada dia os casos aumentam, e paro para pensar o que faz tanta gente ter esses sintomas no seu dia a dia.

Às vezes crises agudas de ansiedade ou  às vezes ataques de pânico, conforme o enquadramento do CID-10 e do DSM-IV, sendo o primeiro a classificação da Organização Mundial  da Saúde e o segundo da American Psychiatric Association.

Apesar de cientificamente o pânico ter bases genéticas e cognitivas*, o que noto de comum em todos os casos são algumas coisas repetidas como, por  exemplo:  a falta de apoio social ou familiar, muitas vezes pais alcoólatras ou usuários de drogas, lutos mal resolvidos, excesso de responsabilidade cedo ainda quando criança, excesso de trabalho e outros excessos. Mas em todos os casos a falta de respeito aos limites do próprio corpo é comum.

Noto também que apesar da maconha ser estudada no tratamento da insônia, na prática clínica, o que vejo é comprovação de alguns estudos como o de Zvolensky,2010, da Universidade de Vermont que relaciona a utilização da mesma com o aumento dos ataques de pânico.

Muitas vezes vejo os ataques de pânico salvando usuários de drogas de seus vícios e renovando a vida de pessoas que tem uma vida insalubre em todos os aspectos. O ataque vem tão forte que eles ficam com medo de continuar o vício e param. Já vi isso acontecer com usuários de cocaína, maconha e álcool.

Na realidade, outra coisa que reparo é que embora existam muitos médicos e psicólogos que tratam as crises de pânico dentro de um protocolo de tratamento de pânico, na realidade a maioria dos casos  que trato com sucesso são mera conseqüência de um trauma passado, ou se quisermos utilizar a linguagem médica, de um Transtorno de Estresse Pós Traumático subclínico. Poderíamos dizer que são o efeito retardado de algo que aconteceu lá atrás.  Salvo quando os ataques ocorrem por abuso dos limites físicos e mentais e sobrecarga de trabalho.

O fato é que existe sempre um gatilho que ativa a situação. Seja no passado ou no presente. Em resumo, estamos falando da seguinte equação: predisposição genética + cognição * + comportamentos disfuncionais e abusivos + gatilho (situação traumática) = crises de pânico.

A maioria dos pacientes de  pânico primeiramente vão parar na atenção primária ou emergências dos hospitais, onde normalmente  fazem todos os exames, pois acham que estão tendo um ataque do coração ou algo relacionado a pressão com tonteiras, falta de ar, vista turva, alguns achando que vão morrer e outros achando que estão enlouquecendo em conjunto com todos os outros sintomas da crise de pânico.

Logo em seguida, esses pacientes normalmente são medicados com Clonazepam, ou o famoso “Rivotril”,  que hoje é o segundo remédio mais vendido no Brasil, acima do Hipoglós, Neosaldina, Tylenol, Novalgina, sendo o  Microvlar o primeiro mais vendido que se trata de um anticoncepcional. Mas se o Clonzepam necessita de receita, pois é tarja preta, como ele pode ser mais vendido do que remédios para dor de cabeça e gripe, ou até para assaduras de neném… mas isso é outro papo. Vamos voltar ao pânico.

Depois dessa visita as emergências, e com a receitinha na mão, esses indivíduos passam a utilizar o que era para ser um SOS como recurso diário e muitos passam a se viciar no Clonazepam ou outras drogas. Ficam assim durante anos, vivendo do mesmo jeito pré crise, às vezes sem procurar um psicólogo ou passando por diversos psicólogos e psiquiatras que tratam da patologia com enfoques errados e que na realidade só geram frustração e não resolvem o problema desses indivíduos. A esperança se vai.

Noto que quanto mais rápido um paciente detecta esse quadro de ansiedade e procura tratamento, melhor o prognóstico e a eficácia do tratamento psicológico e farmacológico. Os pacientes de longo prazo com certeza também podem  recuperar sua qualidade de vida, apenas tem um tratamento um pouco mais longo. É claro que não estamos falando de matemática e o tempo não é lógico, depende de pessoa para pessoa e de seus recursos psicológicos.

O fato é que as crises de pânico e ansiedade, como qualquer crise em nossas vidas é um momento de grande aprendizado e oportunidade de mudança. Oportunidade para pensar em como está a nossa vida, no que podemos mudar para ter mais tranqüilidade e paz, oportunidade para reavaliar os nossos valores e ter uma vida mais plena e feliz.  De iniciar atividades físicas e cuidar do corpo e da mente. O que pode parecer uma grande desgraça pode ser na realidade um grande presente. Encare esse presente e transforme a sua vida para melhor. Esse é o desafio!

E que todos os seres vivos possam ser prósperos e felizes!

 

Eduardo Drummond – Psicólogo Clínico – CRP 05-35489 – www.azulpsicologia.com.br

 

*Cognição é o ato ou processo de conhecer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento, linguagem e ação.